O Evangelho de Judas não é apenas mais um dos escritos
ignorados no momento em que o Cristianismo se fundamentava; é também uma das
peças mais valiosas da arqueologia bíblica. Entretanto, este manuscrito, se
comprovada sua veracidade, produziria um profundo impacto nas bases da
religiosidade cristã.
A equipe da National Geographic Society, fortalecida pelo
acompanhamento de vários estudiosos do cristianismo primitivo e dos mais
respeitáveis cientistas, produziu o documentário O Evangelho Proibido de Judas,
no qual são abordadas as origens, percurso histórico, restauração e veracidade
deste manuscrito.
Este documentário é certamente uma peça essencial para que
estudiosos do tema e espectadores leigos tenham uma idéia mais clara sobre a
complexidade e amplitude da religiosidade humana. Após ter ficado desaparecida
por 1.700 anos, a única cópia conhecida do "Evangelho Segundo Judas",
autenticada e apresentada pela primeira vez ao público, lança uma nova luz
sobre o apóstolo que supostamente traiu Jesus vendendo-o aos romanos.
O manuscrito de 26 páginas em papiro, escrito em dialeto
copta, foi apresentado pela revista americana "National Geographic"
em sua sede, na capital americana. O documento, cópia de uma versão mais antiga
redigida em grego, foi autenticado como sendo do século 3 ou 4. Ao contrário da
versão dos quatro Evangelhos oficiais, o texto em questão indica que Judas era
um iniciado que traiu Jesus a pedido dele próprio, e para a redenção da
Humanidade.
A principal passagem do documento é atribuída a Jesus, que
diz a Judas: "Tu superarás todos eles. Tu sacrificarás o homem que me
cobriu." Segundo exegetas, a frase significa que Judas ajudará a libertar
o espírito de Jesus de seu invólucro carnal.
"Essa descoberta espetacular de um texto antigo,
não-bíblico, é considerada por especialistas uma das mais importantes
atualizações dos últimos 60 anos no que se refere ao nosso conhecimento sobre a
História e a diferentes opiniões teológicas sobre o começo da era cristã",
indicou Terry Garcia, vice-presidente-executivo da revista americana.
A existência desse Evangelho foi comprovada por Santo
Irineu, primeiro bispo de Lyon, que o denunciou em um texto contra as heresias
em meados do século 2. "A descoberta surpreendente do Evangelho de Judas
afeta a nossa compreensão sobre o início do cristianismo", disse Elaine
Pagels, professora de religião da Universidade de Princeton e uma das grandes
especialistas mundiais em Evangelhos.
"Essa descoberta derruba o mito de uma religião
monolítica, e mostra o quão diverso e fascinante era o movimento cristão em seu
começo", assinalou. Acredita-se que o manuscrito, encadernado em couro,
tenha sido copiado por volta do ano 300 d.C.. Ele foi descoberto na década de
1970, no deserto egípcio de El Minya.
Circulou entre vendedores de antigüidades, até chegar à
Europa e, depois, aos Estados Unidos, onde permaneceu no cofre de um banco de
Long Island por 16 anos, até ser novamente comprado no ano 2000, pelo
antiquário suíço Frieda Nussberger-Tchacos. Preocupado com sua possível
deterioração, o antiquário entregou o manuscrito à fundação suíça Maecenas
Foundation for Ancient Art em fevereiro de 2001, a fim de preservá-lo e
traduzi-lo.
Após a restauração do documento, o trabalho de análise e
tradução foi confiado a uma equipe dirigida pelo professor Rudolf Kasser,
aposentado pela Universidade de Genebra. O documento será mantido agora em um
museu do Cairo
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